"Amizade Colorida" é a melhor comédia romântica do ano, apesar dos clichês

Se procurar "charme" e "entrosamento" no dicionário, vai achar essa foto

É uma experiência curiosa entrar no cinema para ver "Amizade Colorida" (Friends With Benefits), tendo visto "Sexo Sem Compromisso" (No Strings Attached) apenas alguns meses antes. Os dois têm, basicamente, o mesmo enredo (dois amigos que resolvem fazer sexo sem comprometer a amizade), e são protagonizados por atores igualmente conhecidos e carismáticos (Ashton Kutcher e Natalie Portman em um e Justin Timberlake e Mila Kunis no outro). Mas onde um acerta absurdamente, o outro falhou miseravelmente.

"Amizade Colorida" já começa bacana. A primeira cena é cheia de cortes estilosos e bem construída o suficiente para nos pegar de calças curtas. Sua função-fim é nos informar como Dylan (Justin Timberlake) e Jamie (Mila Kunis) são legais, mas fadados ao fracasso em seus relacionamentos. Além disso, as piadas sacaneando o músico John Mayer e os grandes olhos de Kunis, já nos cinco primeiros minutos, valem o ingresso.

Coisa de amigos

Jamie é uma caça-talentos que, no momento, precisa convencer Dylan a sair de Los Angeles e ir para Nova York. Ele é um diretor de arte de um blog de sucesso e está sendo sondado por uma grande revista. A mudança seria um grande passo para ele, muito por conta do impacto cultural que há ao sair de uma cidade e "cair" na outra. Para fins de comparação, é como se ele saísse do Rio de Janeiro e fosse para São Paulo, com o agravante de haver, entre as duas cidades americanas, todo um país de distância.

O caso é que ele aceita o emprego, se muda para Nova York e logo fica (pessoas legais e descoladas que são) amigo de verdade de Jamie. O passo seguinte é resolver que não estão mais com paciência para toda encenação que está atrelada aos encontros e namoros e firmar um pacto de fazerem sexo. Mas só por diversão e alívio. Sem abalar a amizade.

A resolução soa tão natural, muito apoiada pelo carisma dos dois, que logo nos embalamos na história. E as cenas seguintes são uma aula de edição, ao acompanharmos o casal "desenvolvendo o acordo", se é que vocês me entendem. O entrosamento dos atores também facilita o trabalho do diretor, Will Gluck, que parece ter só ficado sentado vendo os dois se divertirem semi-nus.

Mila Kunis é uma gracinha, e sabe disso

O ponto todo do filme parece ser esse, afinal. No começo de um relacionamento ficamos tão preocupados em parecer bons para o outro que acabamos vendendo uma imagem do que não somos. No filme, ao contrário, eles não pretendem se conquistar. Por isso as primeiras relações são marcadas por listas de restrições. Desde algo mais prozaico como "sinto cócegas nos seios", até o hilário "preciso ficar de meias, sério".

O terço final do filme perde um pouco da energia do começo. Não que notemos de cara, porque nesse ponto já estamos mais do que fisgados pela trama. Tanto pelo texto engraçadinho, quanto pelo carisma dos dois atores, especialmente de Kunis, que parece uma metralhadora de tiradinhas espertas.

Mas é difícil não sair do filme pensando por que eles não pensaram em algo que já não tenhamos visto tantas e tantas vezes em outras comédias românticas.